Rascunhando sobre produtividade e a perda de memória

Anderson Costa
Movebla
Published in
2 min readAug 27, 2017

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Fonte: Startupstockphotos.com

Esses dias me vi perdido em uma tarefa de trabalho que esqueci de fazer. Não achei nada grave — remarquei meus prazos e segue a vida. Comecei a me preocupar quando me esqueci de uma tarefa do meu cotidiano pessoal. Era algo que eu queria fazer e me agendei pra isso. Mas não anotei em lugar nenhum, nem no meu app de tarefas, o Todoist. Se não está anotado, não preciso fazer. É assim que minha cabeça funciona agora. Podem imaginar o problema em que me meti.

Refletindo sobre o assunto, entendi que minha memória não assimilava mais as tarefas. Essa agora é a tarefa do Todoist na minha vida. Se não está lá, eu não preciso fazer. Desde os relatórios mensais dos clientes até compras da semana. E de repente percebi que faço isso não só com tarefas. Contatos, por exemplo: impossível lembrar de números de telefone, até da minha família. Se está tudo na minha agenda do Google, por que ficar decorando? E os mapas! Pra que decorar uma rota se o Waze escolhe a melhor por você?

Quando a gente entrega a memória para algum registro, ela não fica mais circulando na nossa cabeça. Está lá, registrada em outro lugar. Um estudo americano chama isso de "cognitive offloading", o jeito como usamos a internet como fonte de informação e como isso só tende a crescer no futuro. O próprio #TBT que gostamos tanto nas redes sociais jamais seria real se não tivéssemos acesso perpétuo às nossas melhores fotos de momentos passados. É como se terceirizássemos nossa memória. Outro estudo eu achei até mais preocupante: quando registramos uma imagem com nossas câmeras de smartphones, por exemplo, entregamos o registro do momento para a lente e não damos mais importância para a experiência de viver o momento, o que é o trabalho da memória — a reconstrução de lembranças que gostamos. As fotos ajudam a reconstruir a memória, mas elas não são parte da experiência. E é uma verdade mesmo: algumas viagens eu só lembro de momentos graças às fotos, mas momentos que não foram registrados é difícil lembrar.

Acho que esse movimento é inevitável, especialmente com a memória voltada para o trabalho intelectual, mas eu gostaria de uma forma mais cognitiva de trabalhar minha memória a não depender de apps. Provavelmente vou ficar só na vontade — até minhas consultas médicas estão rigidamente anotadas e recorrentes nas tarefas. E enquanto escrevo esse post, paro e anoto um compromisso na agenda que tinha esquecido de anotar. Ufa.

Você já sentiu esse incômodo? Ou entregar parte da memória para a tecnologia não é um problema?

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Estudando colaboração e cultura pop. Cosplay de mim mesmo na falta de verba.